10 de dezembro de 2019

A Pensar Alto. Luzes e luzinhas.

Era eu miúdo e ouvi contar diversas vezes uma pequena história que se reforçava sempre a identificar os intervenientes. Eram nossos, da Vila, e toda a gente os conhecia. E a história era a seguinte: A família era muito pobre, na altura nada de espantar, ou de espantar menos que agora, a mesa era grande porque muitos eram os filhos, mas na hora do repasto pouco havia para lhe colocar em cima. O pai, fazia o que podia e a solução encontrada era que quando se tinha que dividir uma sardinha por vários, e misturar com um pedaço pequeno de broa de milho a fome parecia aumentar e nesse caso o pai, pegava no violão já velho de tantos enganos e todos juntos cantavam para se distraírem e com aqueles cantos coletivos conseguiam enganar até o estômago, peça difícil de enganar como todos sabem. Era uma alegria. Lembrei-me desta historinha agora que o Natal parece vir mais depressa, damos uma voltas e estamos de novo nele, quando me apercebi do frenesim que vai por este país com as iluminações a festejar o mesmo. Apoderou-se das autarquias uma febre e uma vontade de tudo iluminar, são enfeites por todo o lado, árvores, arbustos, portas e portões, janelas e arcos altos e bem visíveis, rotundas e tudo onde se possa dependurar qualquer adereço de brilho. E se há pontes ou rios? Aí então é tanta luz que uns óculos de sol nem destoam. Será que estamos numa situação económica que todos querem ser as novas  Paris, Londres ou Berlim? Será que a energia elétrica entrou no black Friday e não saiu mais? Será que apesar da catástrofe iminente o iva da luz baixou? Todos tem resposta, é tudo investimento. Que seria do País se o turismo nos visse de luzes mais apagadas assim a modos como a entrar em depressão, Ninguém vinha ou confundiam-nos com a Espanha. E o pai Natal de óculos antigos, sem luzes suficientes para se guiar e às tantas ter que andar por aí às apalpadelas e trocar as direções? As crianças iriam ter que brincar com desejos alheios e isso é pouco pedagógico com certeza. Enfrentemos e mostremos a todo o mundo que por cá não se brinca aos Natais. O País é pequeno mas dos que mais impostos paga, nisso é gigante, e é sempre a subir, já nem se inventam explicações, a qualidade de vida melhora para poucos, para o resto é aguentar de cara alegre, a ginástica mensal para pagar as contas todas está a dar-nos uma preparação que se houver jogos olímpicos nesta modalidade, somos campeões e seremos todos recebidos pelo Presidente Marcelo, temos bola agora até com moderníssima tecnologia, os nossos alunos entram no infantário e sabem que daí a serem doutores falta pouco, é sempre a abrir, na tv eles casam e descasam a uma velocidade que até espanta terem decorado o nome uns dos outros, que mais queremos, e já me esquecia as tais luzes e luzinhas por todo o lado, umas piscam outras não mas o encanto das cores encurta as noites e satisfaz os egos, vivo num País cheio de luz. É como na história que comecei por contar, falta-nos uma melhor saúde, agora não há verba para os cuidados continuados, educação, não há verba para auxiliares, qualidade de vida, muita gente sobrevive dificilmente, então cantemos e levantemos os olhos para o colorido dos Natais. Vão ver que tudo passa e ajuda a esquecer. É pena este investimento só poder realizar-se neste período do ano, pouco tempo para tanto brilho. Aquelas luzinhas a piscar são a demonstração da enorme vitalidade e criatividade de muita autarquia e disfarçam as amarguras do ano. Para quê falar do resto, vamos é para casa apagar aquelas lâmpadas que ficaram acesas porque luxos desses… nós é que pagamos as faturas.

Boas festas a todos.