26 de março de 2021

A Pensar Alto! Vamos todos ficar bem... O arco-íris de cores carregadas.

Um ano. Passou um ano que de repente sem grandes discussões, experimentamos pela primeira vez o confinamento, uma espécie de prisão dourada, quase todos nos domicílios sem contactos ,o mínimo de  companhias, com receios a substituir as conversas e futuros negros nos pensamentos. Num instante, lá foi a vida que julgávamos nunca sofreria tais alterações, nunca na pior das hipóteses e logo da maneira que foi. Assustados, intimidados com as notícias e mais, cada um se fechou num casulo de aparente segurança, e esperou que os dias passassem com muita rapidez, para numa qualquer manhã quando os olhos se abrem mais, com sol mais quente e pensamentos mais brilhantes, tudo tivesse terminado e lá íamos de novo para o costume, aquelas rotinas de que temos saudades. Sem abraços, sem beijos, muitos sem família, sós com os receios que podíamos ser os escolhidos pelo vírus invisível e mais assustador, presente em todo o lado, até nos sorrisos de uma inocente criança. Raio de doença, e logo nesta altura, como se houvesse data escolhida para mal de tal dimensão. Como conforto à medida do passar dos dias, os arco-íris com coloridos a apagar o negro da situação, e muitas esperanças que no fim, sim, porque isto ia ter um fim, íamos ficar todos bem. Mas não era só isso, no final o mundo ia ficar diferente, passe de mágica que o tal estranho vírus ia conseguir. Nunca mais se repetiriam erros tão habituais, de ganância a atropelar homens e natureza, o ambiente ia ficar um brinco, as sociedades iam cair em si e alterar as produções, a poluição reduzida a quase zero, enfim cada respiro só com ar do mais puro, tudo embrulhado naquela solidariedade de oportunidades que muitos já nem se lembravam que existia e que finalmente iria permitir um mundo mais solidário e igual. Passou um ano, um ano e mais alguns dias. Alguns, muitos, não conseguiram terminá-lo porque as coisas foram ficando mais complicadas, ora melhor ora menos pior, sempre os receios presentes, a esperança a ter dias, os desânimos a aparecer cada vez mais como aquelas visitas que nem precisam que se abra a porta principal e vão entrando nem que seja pelos fundos mais escondidos.  Mais um dia, de repente outro, mais um mês e é verdade mais um ano, um instantinho. Agora sei que não vamos ficar todos bem, pelo contrário, muitos vão ficar bem piores, outros além de se esconderem do horrível diário, ensaiam já a indiferença que foi sempre o rumo que mais os orienta. Não está para contemplações como dizia o meu pai quando jogava o Porto. Salve-se quem puder, ou cada um por si e logo se vê. Afinal está tudo na mesma e não vamos ficar todos bem, uns melhores que outros, o costume sem novidades. As vacinas chegaram. Primeiro passo ou último, para que regressem os abraços e o estalar dos dedos num aperto de mão a que temos que nos habituar de novo antes que isto se prolongue tanto tempo que já nem nos iremos lembrar do calor de coisas tão banais. Critérios sempre a deixar dúvidas, “porque ele e não eu??” Casos a aparecer em catadupa, “sou eu o prioritário”, “e eu?” “ainda mais prioritário que todos os outros”, “estou em contato com muita gente,” “foi para aproveitar pois iam para o lixo”, em resumo, “eu é que devo ser o primeiro, perguntem ao meu médico,” “logo vão ver que a minha intenção era a melhor.”  Tudo na mesma, bastou caírem os primeiros raios de sol de uma possível melhoria que tudo voltou, o pior voltou. Fraco sinal para o que ainda nos aguarda. Agora são as marcas, entendidos em marcas de vacinas aparecem como cogumelos, “só tomo a tal, as outras não me servem”, “não inspiram confiança”, organismos diferenciados neste retorno que não aparenta ser definitivo. Tudo igual. Com a cabeça mais enfeudada às tristes e longuíssimas horas de televisão com a acefalia no máximo, estão de regresso. Pelo menos não enganam, durou pouco a esperança de melhores dias e melhores tempos. Vai ficar tudo pior ou é impressão minha? Aguardemos para ver. Foi bonito enquanto durou e é pena mudar as cores ao arco-íris da esperança para um arco-íris de cores quase negras que perpetuem a falta de esperança. Isto sou eu a pensar, porque estou num momento de pessimismo e as luzes ao fundo do túnel estão a ficar raras e muito caras para quem começa a ficar sem grandes alternativas. Estamos a ficar assim a modos de esgotados, nervosos e os dias passam e as soluções de tanto procuradas parecem querer brincar ao esconde, esconde, aparecendo num dia e desaparecendo no outro. De resto a vida prossegue cavando ainda mais as diferenças e isso não há arco-íris capaz de esconder, isso será mais uma coisa que irá depender de todos, de nós, de si em particular. Não contribuamos para ser culpados neste retrocesso que se aproxima na vida de muita gente, por omissão ou comodismo. Da mesma forma que acreditamos nas vacinas e no esforço que muitos fazem para a nossa saúde, devemos acreditar que ninguém vai ser abandonado e mesmo com dificuldades o indispensável não está perdido. Temos que acreditar no bom senso e em que vale a pena acreditar nos desenhos das crianças porque estas os fazem com o coração pequenino, mas os sentimentos muito grandes.