Não passam muitos meses, completaram-se oitenta anos sobre a chegada da energia eléctrica a Arouca. Ou melhor: às principais ruas da vila e de algumas freguesias próximas. Pois a maior parte do concelho permaneceu na escuridão ainda por muitos anos, para beneficio do imaginário popular e sobrevivência das criaturas que habitavam a penumbra e as trevas.
Em 1933, Arouca e Castelo de Paiva eram já os únicos concelhos do distrito de Aveiro a que não tinha chegado ainda a energia eléctrica. Então, apesar de não andar já muito distante, conduzi-la até a Arouca mostrava-se ainda mais dispendioso do que - pensava a Câmara da altura - solucionar o problema a nível local. Pensou-se então em duas soluções: uma, termoeléctrica, por via da utilização de uma das serrações existentes no concelho, onde, a óleo ou através da queima de combustíveis pobres, se accionasse um alternador que alimentasse as redes de distribuição; a outra, hidroeléctrica, mais elaborada e arrojada, por via do aproveitamento da queda de água da Mizarela, lá no alto da Freita.
Frecha da Mizarela |
É verdade! Aquela que é hoje uma das mais conhecidas e imaculadas belezas naturais do concelho de Arouca, da região e até do país, algumas vezes cobiçada até por outro concelho vizinho, poderia mostrar-se hoje - depois de nos ter dado a luz - irremediavelmente violada, esventrada e destroçada.
«A natureza, que foi pródiga na formação da queda, não o foi menos no fornecimento dos meios necessários para a sua valorização pela facilidade que há de se fazer um embalse em condições particularmente económicas. É de facto possível, construindo uma barragem de pequeno volume e 8 metros de altura no sítio denominado Largo de Porto Pereiro, armazenar a totalidade da água que caia na bacia hidrográfica a montante desta barragem. Os terrenos alagados são todos baldios.» «A barragem terá em planta a forma de um arco de círculo de 52 metros de raio, terá 2,5 metros de altura e 22 metros de comprimento.», refere o estudo então realizado.
Uma das várias peças do projecto |
Senhor nos perdoe, tê-lo pensado sequer! Deu-se à luz sem ser necessário deslustrar a moça. A mais bela das nossas moças, por sinal.
Mas, ao contrário do que se possa pensar, não foi nenhuma candeia mais acesa nos Paços do Concelho a iluminar as mentes que projectaram tal desconsideração. A ideia era mesmo para concretizar! Tanto mais quando, pouco diferentes deste, eram os projectos de aproveitamento das águas do rio Paiva, na Espiunca e em Varzielas, igualmente para produção de energia eléctrica, já autorizados ao Conde de Castelo de Paiva.
Porém, - vá-se lá saber por preces e apelos de quem -, caducaram as concessões outorgadas ao Conde de Castelo de Paiva e foi entretanto demitido o Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Arouca. Este, demitido por uma outra razão, é certo, mas que veio mesmo a calhar relativamente a esta outra questão.
O novo Presidente tratou então de incluir Arouca nos concelhos a abranger pela ampliação da concessão de distribuição de energia em alta tensão. Meio ano depois, foi assinado o contrato de fornecimento entre a Câmara Municipal e a Eléctrica Duriense. Em 1937 foram regulamentadas as condições de fornecimento de energia para consumo de particulares e, em 1938, foi finalmente inaugurada a energia eléctrica nas principais ruas da vila e de algumas freguesias próximas. Moldes e Tropeço só viram a luz já nos anos cinquenta, assim como, mais tardiamente, Mansores, Escariz, Fermedo e São Miguel do Mato.
Mas, ao contrário do que se possa pensar, não foi nenhuma candeia mais acesa nos Paços do Concelho a iluminar as mentes que projectaram tal desconsideração. A ideia era mesmo para concretizar! Tanto mais quando, pouco diferentes deste, eram os projectos de aproveitamento das águas do rio Paiva, na Espiunca e em Varzielas, igualmente para produção de energia eléctrica, já autorizados ao Conde de Castelo de Paiva.
Porém, - vá-se lá saber por preces e apelos de quem -, caducaram as concessões outorgadas ao Conde de Castelo de Paiva e foi entretanto demitido o Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Arouca. Este, demitido por uma outra razão, é certo, mas que veio mesmo a calhar relativamente a esta outra questão.
O novo Presidente tratou então de incluir Arouca nos concelhos a abranger pela ampliação da concessão de distribuição de energia em alta tensão. Meio ano depois, foi assinado o contrato de fornecimento entre a Câmara Municipal e a Eléctrica Duriense. Em 1937 foram regulamentadas as condições de fornecimento de energia para consumo de particulares e, em 1938, foi finalmente inaugurada a energia eléctrica nas principais ruas da vila e de algumas freguesias próximas. Moldes e Tropeço só viram a luz já nos anos cinquenta, assim como, mais tardiamente, Mansores, Escariz, Fermedo e São Miguel do Mato.
O facto é que, para além da sede do concelho, as restantes localidades só se veriam iluminadas conforme o lucro líquido o fosse permitindo e, para além disso, se se mobilizassem, no mínimo, vinte cinco consumidores da zona a electrificar, os quais teriam de contribuir antecipadamente com a quantia avaliada como necessária para fazer face aos encargos com o estabelecimento da rede.
Nem tudo foi reluzente e andou à velocidade da dita, como é óbvio. Mas também não era preciso abusar!... Por força das voltas que a coisa deu e da substituição da desconsideração das maravilhas com que a natureza nos contemplou pelos custos empreendidos nos bolsos dos consumidores, lá, nos lugares da serra, donde a luz era para ter vindo, só foram as pessoas socorridas das trevas nocturnas volvidos mais de quarenta anos, pelo Natal de 1980.