25 de novembro de 2018

Homo sapiens arouquensis? A identidade dos arouquenses


   Dei comigo há dias a folhear o livro “Entre Freita e Montemuro”, editado em 1997 pela Associação para a Defesa da Cultura Arouquense. Tem boas sínteses sobre as características geológicas e naturais do chamado maciço montanhoso da Gralheira – ao qual pertence parte do território de Arouca – e sobre a identidade tradicional das comunidades humanas que o habitam. Dá particular destaque à serra da Freita, sobretudo nas fotografias que publica.
   Transcrevo, deste livro, cerca de metade da conclusão do texto “Um pouco de História”, de Filomeno Silva, que versa sobre a identidade dos arouquenses:
   “Tudo o que de uma forma linear procuramos mostrar é aquilo que melhor define a identidade cultural de um povo e de uma gente. Por mais que queiramos ou pretendamos estabelecer paralelos entre estas gentes e as ditas da ‘Terra de Santa Maria’, além de ser uma pura retórica senão ilusão, são interesses mesquinhos de quem pretende apropriar-se de valores ímpares, únicos e indissociáveis destas gentes. Além disso, Arouca historicamente nunca pertenceu a essa terra que vai desde Vila Nova de Gaia até quase Estarreja. Por isso Arouca sempre dispôs de autonomia, bem definida pelo Arda e pela Freita – não é terra do interior mas também não é litoral.
Do Minho tem a verdura dos seus campos e a abundância da água que a converte num dos rincões mais férteis do país. De Trás-os-Montes tem a graciosidade das suas paisagens, a hospitalidade dos seus habitantes e a majestade das suas elevações. Nas courelas onde mal cabe um arado, persistem as pessoas apegadas à terra. Nos nossos dias até se torna impensável como é isto possível. São esses factores que separam os arouquenses dos seus vizinhos mais litoralistas e ao mesmo tempo melhor definem esta terra como um povo e uma gente diferente e extraordinariamente dotada de valores humanos, culturais, paisagísticos e gastronómicos.”
   Foi esta, era esta há 20 anos a identidade dos arouquenses?
   Uma comunidade, salvo raras exceções, é um conjunto de comunidades mais pequenas e uma parte de comunidades maiores. Tem modulações históricas, permutas e mobilidades que tornam difícil representar a sua identidade. Pode correr mal àqueles que tentam defini-la; como tudo na vida, não corre mal àqueles que não tentam.
   Como definiríamos, em síntese, a identidade dos arouquenses de hoje, se possível fosse?