Numa das suas visitas ao nosso concelho, dizia José Hermano Saraiva, no programa “Lendas e Narrativas”, “que é muito possível que o mais antigo altar de Arouca não seja o da Rainha Santa Mafalda, seja apenas este imenso rochedo(…)” Referia-se, este historiador, ao Calvário, classificado como Monumento de Interesse Público, em 1948, pelo Decreto 37 077, DG, I série, nº 228, 29-09-1948.
Aludia ainda, este autor, que desde que as sociedades primitivas criaram os deuses, estes andaram intimamente ligados às pedras. Não seria de estranhar, portanto, que neste local, possivelmente se tivessem realizado as primeiras manifestações religiosas do vale de Arouca.
Numa visita ao site da Direção Geral do Património Cultural, obtém-se mais informação acerca deste local. Aqui se pode ler que “O Calvário de Arouca designa na realidade um conjunto de seis cruzeiros seiscentistas, em granito, erguidos num maciço rochoso a norte da vila, no cimo da antiga rua da arca. Junto das cruzes estão ainda implantados um púlpito em granito, e um nicho. O conjunto é completado por três outros cruzeiros, de factura semelhante, dispersos por vários arruamentos, compondo uma Via Sacra que incluis o vizinho Mosteiro e terminava aqui. Os cruzeiros são compostos por altos pedestais quadrangulares, sobre os quais se elevam pilastras encimadas por capitéis de secção quadrada, suportando singelas cruzes latinas, em granito. O curioso púlpito, de não menos invulgar implantação, é cilíndrico, assentando numa base cilíndrica mais estreita, por sua vez levantada sobre uma plataforma quadrangular. O acesso faz-se através de uma pequena escadaria com cinco degraus. O nicho, ou alminha, possui vão de arco redondo, e é rematado por uma pequena cruz. Todos os elementos se distribuem pelo terreno naturalmente árido e acidentado de forma aparentemente desordenada. O Calvário e a Via Sacra foram erguidos pela Confraria do Senhor dos Passos, instituída na Igreja (hoje capela) da Misericórdia de Arouca em 1621. Esta irmandade organizava, desde 1626, a procissão da mesma invocação, que partia do referido templo durante as celebrações da Quaresma, terminando na Capela do Espírito Santo, Junto do Calvário. O cruzeiro central (restaurado) possui a data de 1627 inscrita no pedestal, estando o púlpito, por sua vez, datado de 1643. A procissão saiu nos mesmos moldes até 1855, ano em que se passou a chamar de procissão do Senhor Morto. Ainda hoje se efectua este cortejo, também conhecido por procissão dos Fogaréus na quinta-feira Santa. As restantes cruzes da Via Sacra encontram-se junto ao Mosteiro de Arouca, na Rua de Santo António, e na via de acesso ao Calvário, junto a uma casa senhorial. Não se encontram incluídas na classificação, embora façam parte do mesmo conjunto monumental.”
Algo que José Hermano Saraiva e a Direcção Geral do Património Cultural não referenciaram, foi o sobreiro que ali nasceu e cresceu ao longo de décadas. É natural. Para eles, a história de Arouca são factos. Para nós, são emoções.
O Sobreiro do Calvário que serviu de torre de vigia, de base militar, de avião, de nave espacial, que deu aconchego e sombra aos primeiros beijos de adolescentes enamorados, só poderia ser significativo para aqueles que ali passaram grande parte da sua infância e partilharam, com este amigo, muitos dos seus momentos de vida. Um amigo que acolheu tantas conversas solitárias, tantos desabafos, tantos segredos, e que sempre os soube guardar. Um amigo para a vida.
Infelizmente, aqueles que outrora o abraçavam e visitavam, foram envelhecendo e saindo dali. Deixaram de lhe falar e, da Rua D'arca, quase nem o olhavam. A vida de adulto é tão complicada. É tão apressada. Não há tempo para nada. Nem para olhar os amigos que estão onde sempre os encontramos.
O Sobreiro do Calvário que serviu de torre de vigia, de base militar, de avião, de nave espacial, que deu aconchego e sombra aos primeiros beijos de adolescentes enamorados, só poderia ser significativo para aqueles que ali passaram grande parte da sua infância e partilharam, com este amigo, muitos dos seus momentos de vida. Um amigo que acolheu tantas conversas solitárias, tantos desabafos, tantos segredos, e que sempre os soube guardar. Um amigo para a vida.
Infelizmente, aqueles que outrora o abraçavam e visitavam, foram envelhecendo e saindo dali. Deixaram de lhe falar e, da Rua D'arca, quase nem o olhavam. A vida de adulto é tão complicada. É tão apressada. Não há tempo para nada. Nem para olhar os amigos que estão onde sempre os encontramos.
O sobreiro foi envelhecendo e, na sua solidão, perdeu a cor de esperança com que nos abraçava na infância. Foi envelhecendo e, na sua solidão, perdendo a sombra com que nos protegia. Envelheceu sem querer incomodar. O seu trabalho estava feito. Sentia-se feliz por nos ver passar, sempre tão apressados, na rua que também era sua. Que belos adultos estávamos.
O sobreiro já não está lá. Ficam as memórias de cada um que ali brincou, namorou e desabafou.
Que se aproveite este momento para recuperar o imóvel classificado, um pouco gasto, e dar-lhe a dignidade que a sua história merece.
O sobreiro já não está lá. Ficam as memórias de cada um que ali brincou, namorou e desabafou.
Que se aproveite este momento para recuperar o imóvel classificado, um pouco gasto, e dar-lhe a dignidade que a sua história merece.