Morreu o Sobreiro do Calvário e, por isso, cortaram-no!!!
Morreu?!... Mas quando é que se morre? Na minha perspectiva, no meu sentir, morre-se quando as pessoas ou as "coisas" não ficam dentro de nós, não ficam no nosso coração, não ficam na nossa memória. Por isso, eu tenho a certeza que ainda levará muitos anos até que o Sobreiro morra. Ele atravessou gerações, ele "conheceu" muita gente, ele foi abrigo para namorados, ele foi confidente de alegrias, tristezas, planos, revoltas...
Subir a escadaria do Calvário ou atravessar a "montanha de granito" e sentar-se debaixo da cúpula do Sobreiro ficando a olhar a Serra da Freita, o Convento, a Vila e muito do verde que o Vale de Arouca oferece, ou então, sentar-se debaixo dele à noite, no escuro da sua sombra, e procurar, no Céu, a Ursula Maior, a Menor, a Orion e a Estrela Polar foi um privilégio de alguns. Tenho a certeza que não foi privilégio de todos! E para quem teve esse privilégio, O SOBREIRO DO CALVÁRIO AINDA NÃO MORREU.
Naturalmente, digo eu, terá morrido para quem o conheceu menos, para quem não usufruiu do bem estar que ele oferecia, para quem não lhe confidenciou nenhum segredo; terá morrido para os turistas que visitam o Calvário e para os quais o Sobreiro era apenas uma árvore grande e velha; terá morrido para muitos daqueles que, no dia da Procissão dos Fogaréus, se sentavam debaixo dele enquanto o padre fazia a pregação... porém, tal como já disse, o Sobreiro ainda vai atravessar a minha geração, a que vem atrás de mim e a que vem atrás desta.
O Calvário está mais pobre, porque o Sobreiro secou, desapareceu. O Calvário perdeu parte da sua beleza, porque o verde do Sobreiro que fazia harmonia perfeita com o cinzento do granito, também desapareceu. Para mim, no entanto, sempre que vá ao Calvário hei-de lá ver o Sobreiro com as suas folhas verdes a (re)nascer, como acontecia todas as primaveras.
Maria