“Isto de usar
máscara está-me a parecer uma grande treta”, ouvi de raspão, ao atravessar a
nossa linda Praça Brandão de Vasconcelos, em Arouca. Esta tirada tão sui
generis (ou talvez nem tanto), logo me despertou a curiosidade, como não podia
deixar de ser. Sou uma pessoa atenta aos que os outros pensam, interesso-me
pelas opiniões e modos de sentir as coisas daqueles que me rodeiam. Ser curioso
não é crime (por enquanto).
Abrandei
o passo, disfarçadamente, apurei os ouvidos e lá consegui apanhar mais algumas
coisitas da conversa entre dois senhores já de alguma idade. “Pois… não tenhas
dúvidas…foram os chineses, claro…estou em crer que isso do bicho até é invenção
só para nos prejudicarem”. “Achas?” “Acho, acho… não tenhas dúvidas… qual bicho
qual quê… primeiro inventam o bicho, depois é só vender máscaras.” “Às
tantas…eles têm é inveja… tinham de arranjar maneira de estragar a economia
mundial”. “Pois… e arranjaram… enquanto isso, a deles… é só subir à nossa custa!
É máscaras, é ventiladores…mas as máscaras então… ui, ui!”
Gostei,
sobremaneira, deste “ui, ui!”. Gostava de ter visto as caras que acompanharam
esta expressão, mas para isso, teria de olhar de frente os dois interlocutores,
e não me atrevi a tanto. Também gostei das máscaras colocadas no queixo (isso
ainda vi pelo canto do olho), usadas como quem diz “Se é obrigatório usar,
usa-se, mas que não servem para mais do que aquecer o queixo, lá isso bem
sabemos que não servem”.
Segui
o meu caminho, imersa em mil reflexões, como gosto de fazer quando deambulo
pelas ruas calmas da nossa linda Vila.
Ora
não é que aqueles senhores até não deixavam de ter razão?! Nunca tinha pensado
nisso desta forma, mas isto de usar máscaras… Acho que nos devíamos recusar a
cair nestas armadilhas dos chineses. É só mais uma forma de nos enganarem e nos
sugarem o nosso rico dinheirinho. As máscaras serão todas de fabrico chinês?
Que importa isso? É apenas um pormenor. O que importa é que estávamos muito bem
sem elas antes de eles terem inventado “o bicho”. Lá se vai o nosso rico
dinheirinho e pronto! Devíamos recusar-nos, volto a dizer!
Aliás…
pesando bem… se calhar, há muito mais coisas que são um perfeito abuso e não
são só as máscaras. E não é de agora, isto já dura há muito, muito mais tempo
do que podemos imaginar. Não sei se é tudo culpa dos chineses, mas enfim…
Se não, vejamos.
Nos bons e saudosos tempos do paraíso bíblico,
os nossos pais andavam nus. Hoje pode parecer-nos estranho e despropositado.
Mas, o facto é que para eles era bastante normal. É claro, temos de reconhecer,
que nos dias de hoje, esse uso (ou falta dele, depende do ponto de vista) seria
inadequado ao nosso clima. Mas, suspeito eu, que, precisamente desde aquela
decisão de se usar esses trapinhos a cobrir-nos, foi que o nosso corpo se desadaptou
do clima e começou a sentir necessidade de se cobrir para não morrer de frio.
Nós em Portugal, até temos um clima (dizem) bastante ameno, por isso, se
calhar, pensando bem, até poderíamos passar bem sem essas roupinhas inventadas
sabe-se lá por quem. Mas não. Pegou a moda e agora… temos todos de segui-la
como carneirinhos. É ou não verdade que, seguindo a versão das máscaras, são
tudo invenções para gastarmos o nosso rico dinheirinho e fazer subir a economia
de alguém que lucra à nossa custa? Devíamos pensar bem nisso e rever a nossa
posição em relação a esta questão.
Outro
exemplo. E este, parece que até é mesmo culpa (mais uma vez) dos chineses.
Estou a falar dos guarda-chuvas. Não há registo histórico de quem e em que data
exata foi este instrumento inventado. Mas, segundo se sabe, foi na China que
surgiu, por volta do séc. XI antes de Cristo. Ah, pois é! Mais uma perseguição
dessa cultura, e esta já de longa data. Ora, também me está a parecer que vou
deixar de comparar esse malfadado instrumento de tortura. Tortura, digo e
repito. Nem sei ao certo quantos guarda-chuvas compro por ano, mas vai em boa
conta. Estão sempre a perder-se, a ser deixados em todo o lado. Então para que
servem. Compramos… compramos… e, quando deles precisamos, nunca estão lá! E
ainda por cima, o melhor sítio para se comprarem, para além das feiras, é mesmo
nas lojas chinesas.
Não
que eu tenha alguma coisa contra esse povo. Antes pelo contrário. O mundo é um
lugar que obtemos de empréstimo (por sinal, por uns quantos anos, às vezes até
bem poucos) e que temos o dever de partilhar. Sinto-me, acima de qualquer outra
coisa, cidadã do mundo). Um pequeno quinhão chega-me bem (até me hei de, um
dia, contentar com bem menos). E, se os chineses inventam coisas, acho muito
bem. Eles ou quaisquer outros, evidentemente. Mas, o que me aborrece é que
tenhamos que usar tantas e tantas coisas, eu que até sou (digo eu!) pouco
consumista. Ou gostaria de ser.
Para
concluir, deixo aqui algumas dicas. Isto das máscaras, das roupinhas, dos
guarda-chuvas… e até das comidinhas, se pensarmos bem, não passam de invenções
para nos fazer gastar dinheiro e consumir a paciência.
Recuso-me!
Vou deixar-me disso! Máscaras, então, nem pensar!
O
vírus? Bem… não sei se é invenção, mas logo se vê. Se vier… bem… há hospitais,
não há? E UCIs, não há? E ventiladores, se me faltar a capacidade de respirar
sem ajuda, não há?
Esperem lá!... Quem terá inventado estas coisas?!