“Pandemia pode acelerar perda da população portuguesa”, dão-nos conta as notícias recentes, referentes à diminuição da natalidade no nosso país. Não só em Portugal, mas no mundo em geral, parece que o Covid-19 está a fazer com que as nossas futuras criancinhas adiem os seus planos para nascer, deixando para melhores dias.
Este facto vem contrariar o que tanto
ouvíamos dizer (por graça? por convicção?) nos tempos em que a quarentena se
instalou: “Agora é que vai ser teletrabalhar em série. Daqui a nove meses é que
vamos ver nascer meninos”. Pois, se calhar o problema terá sido mesmo esse:
teletrabalhou-se demais e trabalhou-se ao vivo e em presença de menos. Deu
nisto! Dizia-me, alguém, um destes dias, que “não admira, tem andado tudo com
medo de se tocar, até um beijo é perigoso”. Isso ou a regressão económica, a
perda de confiança no futuro, o medo de enfrentar uma gravidez covídica… Tantos
podem ser os motivos!
O certo é que estão a nascer cada vez
menos crianças. Parece que nada as convence a vir a um mundo infestado de vírus
por todo o lado, mesmo com coloridos arco-íris a dizer-nos que “Tudo vai ficar
bem”, pintados por outras criancinhas que já por cá andavam antes da “bomba”
estourar e não tiveram tempo de adiar a viagem para cá. E isto não é nada bom,
principalmente para um país tão envelhecido como o nosso. As nossas mais belas
flores vão murchando e começa a não haver ninguém para fazer novas sementeiras.
“Crescei e multiplicai-vos”, disse Deus (Génesis, 9:7).
Pois bem: até agora sempre pensei que
este dito de Deus se dirigia a nós humanos. E como eu, penso que muitos outros
terão pensado o mesmo. Afinal, naquela altura, Ele falava com Noé e sua
família, acabadinhos de ser salvos de um dilúvio que dizimara a humanidade
inteirinha, e sem dúvida, era preciso começar a (re)produção em massa para
substituir os afogados e repovoar a Terra (imagino a trabalheira que deve ter
dado!).
Mas não!
Temos andado, todos estes milénios, completamente equivocados. Não podemos
esquecer que, com Noé, na Arca por ele fabricada, estava também um casal de
cada ser vivo do planeta, para que a Natureza também ela se refizesse. O
engraçado é que, segundo as ilustrações que se divulgaram desde essa altura, e
chegaram, sabe-se lá por que meios, até aos nossos dias, acostumámo-nos a ver,
na Arca, elefantes, girafas, cobras, macacos, galinhas (não! nunca vimos
galinhas, mas certamente teriam de estar lá, se não ter-se-iam extinguido).
Sabe-se lá porquê, também nunca vimos, nessas belas ilustrações bíblicas, vacas
arouquesas (nem de outra espécie, reparo agora), mas também devia haver. De
outro modo, como teriam elas chegado a Arouca? Terá sido nesse dilúvio que se
extinguiram os famosos dinossauros? Não, acho que estou a confundir as coisas.
Mas também não é de galinhas, vacas arouquesas ou dinossauros que quero falar.
De quem eu
quero falar é desse bichinho estranho que dá pelo nome de SARS-COV-2 (mais
conhecido como coronavírus), que, sem qualquer dúvida, também deve ter sido
salvo na Arca (mal imaginavam eles as consequências para os descendentes de
Noé). Ninguém o viu, mas disso não me admiro nada. Ainda não tinha sido inventado
o microscópio.
Chego agora
à conclusão que, ao fim e ao cabo, era para esse famigerado vírus que Deus
falava. Só não teria sido preciso o “crescei”. Essa parte está a mais. Este
bichinho é tão minúsculo, tão minúsculo, que não há quem o enxergue. No
entanto, lá multiplicar-se, multiplica-se ele. Bem mais do que seria de
desejar.
Ter-se-á o Deus do Génesis enganado? Teria estado a enganar-nos a nós, fazendo-nos pensar
que se nos dirigia, enquanto preconizava o crescimento de uma espécie tão
malévola (pelo menos do nosso ponto de vista)? Isso não sei.
O que acho é que, a par das ordens de Deus para que crescêssemos e nos multiplicássemos (e isso, mal ou bem, até
fomos cumprindo, porque até nos ia dando jeito) temos andado à ordem dos nossos póprios projetos (ou falta deles, às vezes mais parece), nos quais temos incluido como meta primordial, a curto e longo prazo, a destruição da nossa habitação planetária, fazendo extinguir umas espécies e contribuindo para a disseminação de
outras, a nosso bel-prazer. E pronto: cá estamos com o “crescei e
multiplicai-vos”, mas no sentido inverso do que seria aceitável.
O que nos vale é que “Tudo vai ficar
bem”, dizem alguns arco-íris que ainda vão havendo por aí, meio desbotados.
Esperemos que, antes que desbotem de vez, a Esperança não se esvaia e a
Humanidade ainda vá a tempo de crescer noutro sentido.
E já agora… quem tiver idade para isso, logo que estejam imunizados pela vacina (vamos a ver quando será), vá lá, multipliquem-se! Façam criancinhas, que bem precisamos delas.
Entretanto, cuidem-se. Continuem a
manter o necessário distanciamento social e a cumprir todas as regras previstas
pela DGS, a ver se saímos desta o mais depressa possível. Já ninguém aguenta!