Ou de como se transforma um espaço aprazível num lugar
descaraterizado e sem perspetivas. Por razões que não descortinamos, alterou-se
a esplanada no parque da Vila, ali próxima do pombal. Gastou-se nessa alteração
uma soma considerável de dinheiro e acabou por se transformar um local
agradável, num outro que apesar da comodidade e da qualidade arquitetónica, não
entusiasma ninguém. Todos sabemos que qualquer obra apesar da bondade das
intenções pode ficar aquém do previsto. O poder politico quer alterar, para
melhor, claro, os técnicos assumem os projetos e defendem-nos, e aguarda-se que
o resultado final agrade aos utentes e às populações que irão beneficiar com
elas. Neste caso foi tudo ao contrário. O local anterior era ao nível do solo,
no verão era um sitio onde se ouvia música, conversava-se com aquela intimidade
tão típica da nossa Vila, as crianças andavam por ali perto em brincadeiras e
correrias, um simples olhar protegia-os e todos se sentiam satisfeitos. Os
grupos de música que por vezes apareciam, encostavam-se às paredes do pombal e
o ambiente criado era confortável pois as velhas paredes contavam-nos segredos
enquanto as músicas surgiam fruto também elas da imaginação de um criador. De
repente tudo se alterou. Desceu-se o nível do solo, melhoraram-se as condições
para a indústria, o mobiliário levou toque de novidade, o espaço ficou amplo,
arquitetonicamente se calhar com muito mais qualidade, mas nunca mais se
encontraram os ingredientes que tanto prazer davam aos utilizadores do anterior
espaço. Os olhos adoram espaços e não gostam de estar aprisionados entre
rochas, mesmo que muito bem trabalhadas. E muitos se têm esforçado por
recuperar as qualidades do velho lugar. Mas os resultados são desanimadores
para os dois lados, para quem explorou e para quem esperava oferecer mais um
espaço de lazer com qualidade, para quem nos visita e para todos os que
frequentamos a Vila. Agora, há meses que nada se ouve por lá. Arrumaram-se as
cadeiras, fecharam-se os armários, as luzes nunca mais brilharam, aqueles grupo
musicais que tanto tentaram trazer de novo tempos que não esquecemos, deixaram
de se ouvir de vez, e todo o espaço passou de novo para o campo dos projetos.
Gastou-se lá uma soma considerável mas tudo tem solução e se encontrarem de
novo o êxito daqueles dias de verão tudo compensará a surpresa do inêxito. Não
se pode é encerrar o capítulo ou atirar para tempos distantes uma solução com
medo de novo engano. Com novas obras, novas ideias, se calhar de novos
técnicos, é ponto de honra recuperar o espaço aprazível que por lá existiu. E
não se pode esperar toda a vida. Cada dia que passa aumenta a sensação de se ter desistido de uma solução
e considerar o espaço como terra abandonada. A Câmara tem as suas prioridades,
os seus orçamentos e este compasso de espera não quer dizer de certeza que o
problema está esquecido, mas os dias vão andando e as portas fechadas que tanto
demoram a abrir de novo não devem continuar assim muito mais tempo. Nós, os que
defendemos com entusiasmo uma Vila cada vez mais bonita e aprazível, prometemos
esperar mais algum tempo pela surpresa da reabertura, e nesse dia, vamos lá
beber um copo com amigos e pensar que afinal valeu a pena a demora. Tem a
palavra o nosso poder politico.