Não vai assim tanto tempo que um indivíduo
residente no Porto, em idade de reforma, cujos dias, com certeza, são passados
entre os bancos do jardim, a jogar uma “suecada” com os amigos e a casa onde
sempre viveu, talvez pela monotonia desses momentos repetidos, decidiu que
naquele dia tudo seria diferente.
A vontade de sair e explorar o
mundo que o seu porta-moedas, pequeno, gasto e leve o encorajou, levou-o ao
Campo 24 de Agosto e, assim, de peito cheio, corajoso e de um só fôlego,
perguntar pelo preço do bilhete para Alvarenga.
A tal impetuosidade, respondeu o
administrativo, com alguma intromissão, tentando perceber o motivo da viagem e
o tempo da estadia.
E para que interessava saber
isso? Que raio?!? O homem só queria aproveitar a vida e fazer aquilo que
durante décadas o trabalho e as responsabilidades familiares não permitiram.
Viajar! Vamos lá, que a carteira é pequena, gasta e leve e quem tem pouco
dinheiro não se pode meter a pensar muito!
Não escondendo a sua surpresa, o
administrativo, responsavelmente, alertou o senhor que o autocarro que ia até
Alvarenga era o mesmo que regressava ao Porto. Acautelou o homem que o tempo de
paragem naquela freguesia de Arouca era apenas o necessário ao descanso do
motorista e, que por isso, o tempo despendido para lá do vale do Paiva não
daria para muito mais que um café!
Ideal! O preço justificava o
passeio. O porta-moedas ainda ficava com alguns trocos.
Assim veio o “velhote” conhecer a
terra dos bifes, e lá teve o que contar aos seus amigos da “suecada”, que todos
os dias gastam os bancos no jardim de sempre.
Serve esta história, contada por
quem trabalha na Transdev, para reforçar a ideia que tenho relativamente ao
PART (Programa de Apoio à Redução Tarifária) e que já defendi em artigo escrito
neste blogue, em 27 de Março do presente ano.
É, de facto, uma medida que
contribuirá para o uso crescente dos transportes públicos e uma maior
mobilidade, em particular por parte das classes mais desfavorecidas, que
infelizmente são sempre as mais afetadas pelas variações económicas do país. Para
além das naturais vantagens financeiras, acrescem as ambientais, pela
diminuição do uso de transporte particular.
A comprovar esta tendência do uso
cada vez maior dos transportes públicos, promovido pelo PART, referiu-me o
funcionário daquela empresa que os primeiros horários de autocarros a sair de
Arouca, e que estavam sempre vazios e, por esse motivo, corriam o risco de
acabar, agora estão quase cheios.
Ainda bem!