A "Variante", que é da mais elementar
justiça que se construa, e que faz parte dos maiores anseios de todos os
arouquenses, desde há várias décadas, mais uma vez parece parada na
encruzilhada de promessas políticas que, aparentando maior ou menor credibilidade, sempre fizeram acreditar que um dia a sua construção se iria
iniciar.
Um dia que, outra vez, tarda em chegar.
Aferir a responsabilidade desta situação, é algo
que deixo aos políticos e à sua retórica populista e de sofismos rebuscados. Em
particular aos políticos nacionais que, ao longo dos sucessivos governos, onde
todos os actuais partidos com assento parlamentar tiveram responsabilidades (não
se escapa ninguém, portanto), prometeram, nos olhos dos arouquenses, que a obra
seria para realizar.
Avaliar a actual dinâmica territorial de Arouca,
mesmo sem “Variante”, é algo que julgo que cada um de nós pode fazer.
Por motivos profissionais, este ano encontro-me a
trabalhar em Castro Verde, no Baixo Alentejo. Ano passado trabalhei em
Trancoso, na Beira Alta.
Refiro-me a estes dois municípios, em concreto,
porque, para além de terem uma área territorial próxima à de Arouca, sofrem
igualmente de um conjunto de questões associadas à interioridade. Mas, acima de
tudo, expõem exactamente aquilo que penso relativamente às alterações que a rede
viária pode induzir num dado território, ou não.
Estes dois municípios são servidos por excelentes
vias de comunicação rodoviária.
Castro Verde localiza-se a 5 minutos, de carro,
da A2. Está encostada ao IP2. Pelo centro da vila, passa a N2, que liga Faro a
Chaves (considerada, por muitos, uma das estradas mais bonitas do mundo). Tem,
por isso, todas as condições para um desenvolvimento territorial exemplar. Todavia,
não é isso que acontece. Aqui, as excelentes infraestruturas rodoviárias que
permitem um rápido acesso ao centro da vila são as mesmas que permitem uma saída
igualmente veloz. E isso acontece, porque não existem dinâmicas internas, sejam
económicas, turísticas ou sociais, capazes de segurar as pessoas. A título de
exemplo, posso referir que, apesar do elevado número de turistas que passa pelo
centro da vila de Castro Verde, percorrendo a N2, nenhum fica mais tempo do que
o necessário para tomar o café.
Regularmente, em conversas com habitantes desta
vila, quando inicio uma frase com “aqui há…”, logo sou interrompido, respondendo-me
“aqui não há nada, nem vale a pena continuar a pergunta”. Os próprios Castro
Verdenses reconhecem a falta de dinâmica do seu território, e não estranham,
por isso, a pacatez e solidão a que estão designados.
Poderia acrescentar, aqui, a falta de saneamento,
o envelhecimento das condutas de água, que origina rebentamentos constantes e
cortes de abastecimento, a rede eléctrica também envelhecida, o mobiliário
urbano gasto e abandonado. Tudo aspectos que me fazem lembrar Arouca da década
de 80 e me levam a pensar no quanto o nosso concelho já evoluiu e como, muitas
vezes, precisamos de sair de Arouca para percebermos como estamos bem.
Trancoso, é uma vila igualmente muito bem servida
por infraestruturas rodoviárias. Está a 10 minutos de carro da A25. Está, tal
como acontece com Castro Verde, encostada ao IP2. Teria, por isso, todas as
condições para um desenvolvimento territorial exemplar. Mais uma vez, não é
isso que acontece e, para não maçar o caro leitor, limito-me a referir que,
também aqui é notória a falta de dinâmicas territoriais internas, levando a que
esta vila, com um enorme potencial turístico, esteja destinada à mesma pacatez,
solidão e isolamento que encontro em Castro Verde.
Arouca, apesar de todas as dificuldades impostas
por uma estrutura rodoviária que lhe dificulta o encontro de novos caminhos de
desenvolvimento, tem sabido lutar contra a resignação e, mesmo com as
sucessivas faltas de palavra de sucessivos governantes que por cá passaram, tem
procurado criar novas dinâmicas, que lhe permitam oferecer uma boa qualidade de
vida a todos quantos a habitam e visitam. Independentemente da “Variante” estar a ser
construída ou não.
Claro que não está tudo feito. Nunca se pode
dizer o tal. Nunca nada está totalmente feito.
É minha opinião, contudo, que não é a “Variante”
o elemento central no desenvolvimento, passado e futuro, de Arouca. São as
pessoas. São as dinâmicas que os arouquenses criam e que estão habituados a
criar. Em nada somos inferiores a muitos municípios com características idênticas
ao nosso e mais bem servidos em termos rodoviários, bem pelo contrário.
Desmistifique-se a “Variante”.