Foram aparecendo pelas feiras antigas, primeiro com a
timidez de quem dá passos inseguros depois com as convicções e a segurança de
quem ama o que faz. O artesão é a pessoa que fabrica os seus produtos
manualmente com a habilidade própria que possui e é auxiliado pelas suas
ferramentas, o seu entusiasmo e a sua criatividade. Aproveita e recicla
materiais, inventa-lhes novas utilidades e consegue gerar objetos de uma beleza
imensa, peças únicas repletas de simplicidades, que apesar de solitárias, estão
reunidas junto ao que de melhor o ser humano pode produzir. Assim a modos de
quem vai fabricando a sua própria vida, pois no final todos somos e fomos
artesãos.
Arouca tem também muitos e bons artesãos. Aproveitei uma
destas últimas feiras e sem grandes comprometimentos conversei com uma dúzia
deles. Sem escolher, fui andando e conversando e fiquei com uma enorme
convicção, todos gostam verdadeiramente do que fazem. As manifestações de
prazer foram muitas, e as razões para tal alegria, o produzir com as próprias
mãos por sua conta e risco, numerosas. Uns por gosto, outros porque descobriram
como preencher o vazio da reforma, outros porque dessa maneira conseguem
mostrar os sentimentos guardados, outros porque sempre foram habilidosos e
realizam se nestes trabalhos, outros porque sem querer ficaram a saber que há
sempre uma nova oportunidade e um novo recomeço, outros porque encontram na
solidão do trabalho as companhias que lhes devoram os dias. Mas todos com
aquele prazer que não interessa esconder, é mesmo estar próximo da felicidade.
Confesso que lhes tenho alguma inveja. Todos deveríamos ter
o dom ou a possibilidade de construir alguma coisa com as nossas mãos, ou desenhar,
ou escrever, pintar, esculpir ou inventar, fossem objetos, fossem vontades ou
aspirações, até aqueles desejos escondidos bem no fundo. Mas a timidez, a falta
de oportunidade, a ocupação com as preocupações quotidianas, as prioridades
difíceis de organizar impedem muitas vidas de serem o que gostariam, de viver a
vida que pelo menos uma vez idealizaram. Sim porque todos sonham pelo menos uma
vez, não importa se cedo ou tarde, o que precisam para serem felizes. Os nossos
artesãos concretizam tudo isso e as obras nascem e aparecem, e em todas se nota
este entusiasmo em conseguir atingir a coisa mais simples, trabalhar e ser
feliz. Apoiemos os nossos artesãos porque apesar de estranho, seremos nós os
maiores beneficiados. Gosto mesmo do artesanato e da sua simplicidade. Representa
um pouco da nossa terra, o genuíno e o que não devemos deixar esquecer. Fiquei
por tudo isto satisfeito com a nossa Câmara por numa parceria, apresentar o
projeto Rede de ofícios tradicionais e Arte Criativa em Arouca, numa tentativa
de dinamizar o território apostando em criatividade e inovação. Defender o que
é nosso e divulgá-lo é este o caminho. Que os nossos artesãos tenham a
visibilidade que merecem e espalhem por todo o mundo pedacinhos da nossa terra.