Sinceramente em toda a minha vida nunca tinha empregue esta
palavra. Sabia o que queria dizer mas como há sinónimos mais usuais e mais
doces, maneiras de dizer, para expressar este isolamento, nunca a tinha
escrito. E se calhar nunca a tinha dito. Perdoem a repetição, agora que lhe
conheço na prática o significado, vivia bem sem ela. Por estes dias não haverá
palavra que todos, nunca mais iremos querer pronunciar esta do confinar. Sabemos
agora o que quer dizer ter limites, estar prisioneiro sem ter cometido qualquer
crime ou delito, a injustiça a massacrar nos diariamente sem olhar a nada nem
ninguém. Cá estamos, quase todos confinados, com dias e dias a passar,
assustados com o vazio do futuro à espera de qualquer coisa, qualquer noticia,
que nos alegre de novo e nos devolva os dias felizes, assim a modos do alívio
quando o mar chega mansinho e refresca o corpo quente do sol. Até lá a maioria
confinada, os indispensáveis a trabalhar todos com as suas e nossas
prioridades, todas importantes e fundamentais. Nós os confinados, os mais
velhos, e aqueles cujas atividades foram interrompidas, cá estamos a apreciar
os dias mais longos, as horas sem fim, a arrumar pensamentos que muitos
tínhamos esquecido mas voltaram com este repouso, tentando não perder de vista o mundo, o de longe e o de
perto e cada vez mais habituados e aperfeiçoados com as novas formas de
comunicação. Sempre a resistir e ver se passamos despercebidos ao inimigo
invisível. E nem tudo é mau. Descobri, melhor recordei, p.ex. que somos um povo
fantástico. Do dia para a noite e através das redes sociais o que não faltam
são entendidos em gráficos, em picos, em planaltos e quejandos. Descobrem se maquinações
terríveis vindas do Oriente, problemas matemáticos são canja, todos sabem cozinhar
bolos e doces com esmero, em relação ao presente soluções não faltam, pena não
poderem ir todos para o Governo, criticas nascem a rodo, e do futuro então
todos traçam um cenário, os do poder, meio côr de rosa, os da oposição moderada
um pouco mais negro e os outros catastrófico que isso dá sempre audiência, nada
como antever sofrimento e pesadelos. Alguns e como não tem havido futebol,
impossibilitados que estão de ir para os campos insultar os árbitros e quem
lhes apareça pela frente, insultam quem transmite as noticias, quem escreve
opiniões que vão contra os seus interesses, e por dá cá aquela palha, com erros
de ortografia ou frases mais delicadas não fica nada por dizer. O importante é
mostrar indignação mesmo sem saber bem contra quê, ou que alternativas se escolhiam
e se eram viáveis É tudo incompetente, onde já se viu. A oposição a nível
nacional tem andado meio colaborante a ver onde param as modas, não vá vir por
aí mais derrotas nas próximas eleições com atitudes que não se esqueçam
facilmente nestes tempos de surpresas e de decisões pouco populares. Cá em
Arouca a oposição, optou por manter a indignação em alto, para se manter fiel
aos aderentes, divulgou as suas propostas fundamentais, quais vacina de ultima
hora, num jornal da terra, on line que é mais rápido, com um dente a piscar no
fim das páginas que o mais distraído até se assusta com tal aparição. Fiquei na
dúvida se é preciso ter dentes para tais propostas, ou se se concretizarem tais
intenções ficamos em paralelo com dentes melhorados, sei lá, mensagens sub
liminares com certeza de uma publicidade moderna e meio americanizada lá das
terras da aberração trumpiana. As
propostas eram todas boas, tudo a descer, impostos, águas, e mais. E têm razão,
está tudo sobrecarregado, uns mais que outros mas assim ficava tudo mais
aliviado. Podiam ter falado na luz, nos seguros e por aí fora mas sabemos bem
quem andou a vender as empresas rentáveis para salvar o País e incentivar a
iniciativa privada, que isto do Estado nasceu para ter prejuízos e é a dividir
por muitos.Mas afinal até isso,as simples propostas deram polémica, são nervos á flor da pele,è do tempo que vivemos. Adiante, anda no ar uma expetativa de que vai tudo acabar bem e que
vamos todos aprender a lição do que muito se tem errado. Regressarão os valores
propositadamente esquecidos, vamos todos olhar para os outros de uma maneira
muito diferente, enfim, há males que vêm por bem. Não estou tão otimista, pelo
andar da carruagem antevejo mais do mesmo, no entanto quero esperar para ver as
mudanças e quem irão ser os mais penalizados e os mais favorecidos, porque
disso vai haver de certeza. Tempos de reflexão, de atuação, pleno de surpresas
e decisões das quais podem depender as nossas vidas. A nossa terra tem sido bem
dirigida e o nosso País não tem sido dos piores numa Europa bem atingida pela
calamidade. Mas claro isto é o meu ponto de vista, sei que muitos não irão
concordar porque de conversa está o mundo cheio, e isso pelo menos está na
mesma.
Carlos S. Sousa em quarentena.