13 de novembro de 2018

A Pensar Alto... Nando.


Manoel  Fernando  Cabral  Teixeira, nasceu no Brasil, viveu a meninice e juventude em Mansores terra dos pais e avós, a partir daí viveu no Porto e lá terminou os seus dias numa madrugada da semana passada com muitas chuvas e silêncios.
A escola, a igreja, os caminhos por entre os campos, da Vila á Estrada, o velho coreto da Vila, os amigos que restam, as paredes da antiga mercearia, a casa da Mó onde viveste com os teus pais e irmãos, e mais sítios e mais pessoas de Mansores, lembram se bem de ti. Lá deixaste a criança e partiste homem feito. Não te vão esquecer.

Tendo uma confirmação do que nos dói, sentimo-nos meio vazios, o nosso organismo quase deixa de respirar mas vivemos na mesma, e os passos que damos passam a não orientar bem as nossas direções, parecendo que passamos a seguir sem destino. Quase sem dar por isso e entregue a este estado, abriu- se-me  na frente a praça da aldeia com o vazio do costume. Sentei-me  no primeiro banco que veio ao meu encontro, nem reparei que era o mais gasto, o único em que as únicas cores das madeiras puídas eram as raras risadas de alguma criança que por lá se sentara tempos antes, e  aparentemente sozinho, deixei os olhos escorregar em toda a volta e senti-me mais uma vez vazio de ideias, só os pensamentos ao meu lado. E soube naquele momento que os pensamentos, pelo menos os mais tristes, podem ser ruidosos, e quebram os silêncios que se escondem ao vê-los chegar. Estava triste, num sitio triste e até o fim de tarde que se aproximava, a luz era já mais próxima da sombra, era triste. Nunca entendemos a morte de quem gostamos. A escolha parece-nos desonesta e imerecida, mas nada adianta, resta-nos o abraço dos que como nós sentem a mesma ingratidão de quem fez tal escolha. Neste passo, recordamos tudo, mesmo tudo, e não foram só conversas, não foram só risadas, não foram só lágrimas partilhadas de alegria ou tristeza, foram pedaços de vida que nunca mais se irão repetir. E o muito que ficou por dizer não é bem um arrependimento, é mais uma esperança que a história nunca mais se repita. Sabes que gostávamos de ti. Eras meu primo, e os primos são assim como uns irmãos afastados. Devia ter-te dito muitas coisas que se vão adiando mas sei que o entendes porque tinhas um coração bonito e tranquilo e entendias bem os silêncios, os olhares e as pausas no meio das gargalhadas que demos nos últimos tempos. Sabes que gostávamos de ti. Alegramo-nos muito com as tuas recordações da meninice que dividimos. Ficamos felizes por teres seguido e feito uma vida repleta da tua velha serenidade. Ficamos felizes por teres uma família linda. Ficamos felizes por muitas coisas porque o merecias. Não devia ter adiado muitos momentos, mas a esperança em que o inevitável passe de largo ajuda-nos a respirar todos os dias. Sei que entendeste e ficaste também feliz. Sabes que gostávamos de ti.
O velho banco passou a ser incómodo, a noite chegou e com ela trouxe gente anónima que por nada saber trazia sorrisos e aguardava por amenas cavaqueiras antes de enfrentar novo dia. É isso, a vida não pára, mais dorida mas não pára. Hoje recebe um abraço mais longo que o normal. A nossa mesa passa a ter menos um lugar. É tudo.