Comecei a escrever este pequeno texto sem uma ideia bem definida acerca do tema e de que iria tentar falar, mesmo que em pensamento. A preocupação maior é não resvalar para o óbvio e desatar a dar-me de entendido acerca da covid 19, porque destes está tudo cheio. Basta passar os olhos por um jornal, ouvir um debate ou uma conversa na tv, e berço dos berços ler atentamente os comentários nas tão modernas redes sociais. Entendidos, especialistas, analistas, experientes em nada e mais alguma coisa, tudo escreve. Erros de ortografia à parte, todos querem dar a opinião, passou a ser um direito, melhor, uma obrigação, calado é que eu não fico, mesmo que corra o risco de a mosca entrar. Admira me não ser criada uma associação nas redes sociais, para se fazer ouvir junto dos especialistas a sério, dos que aconselham as autoridades, também eles por vezes em tão grande número que as opiniões até se contradizem, e se umas são mais reais outras são de morrer com o susto. País original este. Avancemos. De eleições também não quero falar, o que passou lá vai e das próximas se bem que já me parece ver alguns candidatos ou pseudocandidatos em bicos de pés a pensar que a hora está próxima, nem se sabe bem quando são. Uns querem nas datas previstas, outros lá mais para a frente, pode ser que melhore qualquer coisa. Assim como aquele passeio de domingo que promete chuva, mas há sempre a esperança de só começar quando já estamos em casa. De confinamentos, é tema que esgota a paciência de um santo, é um atrás do outro. De crise, tinha pano para mangas o dia a dia é fértil nesse assunto e é como o vento de verão, sopra de todo o lado. De resto, para quem sabe o que é confinamento as conversas são muito menos, os contatos resumem se ao indispensável e mesmo estes com racionamento, mas muito ricos como se a língua tivesse medo de não recuperar a ligeireza dos tempos antigos. A vida deu uma volta que demoram todos a digerir. Até o otimismo tem que ser embrulhado em reticências, não vá parecer algo tipo blasfémia. A morte passou a ter contador, e os números ora sobem ora descem a embalar estes dias em que as descrenças começam a ganhar terreno, e lá vão amigos e conhecidos. Avancemos, em resumo, dias e noites, noites e dias muito iguais, mas com todo o tempo a ser aproveitado da melhor maneira que cada um se permite. Escrever faz parte disso. Ainda bem que Arouca tem sempre assuntos novos. O novo percurso ao longo do vale que nasce ali pela Vila e acompanha o rio, é verdadeiramente um sucesso, não sei se vai ser ciclo ou eco, sei que vão ter de coexistir e partilhar o mesmo chão, ouvir os mesmos cantares que sobem do rio, ora com mais ora com menos água, fazer as mesmas pausas e conviver com os colegas de rotas. Um percurso em versão soft daqueles antigos que nos enlameavam as botas e faziam chegar a casa com os pés molhados e reprimenda calorosa. Moderno, tranquilo e de fácil acesso, com as comodidades dos dias de hoje, rapidamente vai ficar repleto de muitos passos, rápidos ou lentos conforme o ânimo e a intenção do passeio. Ainda em obras, já se vai adivinhando o traçado completo e será uma forma de todos poderem ter mais saúde, se o que dizem é verdade, que caminhar traz saúde. Anda muita gente por lá durante quase todo o dia. A maior parte com todos os cuidados e a cumprir as regras, sejam casos individuais com os pensamentos sombrios a manterem se distantes, se calhar por causa daquele verde semeado de pássaros e coisas belas, outros em grupos pequenos e quase sempre familiares, uma partilha de encantamento físico distribuído por várias gerações. Este percurso, que até pode ficar caro, ter uma manutenção pesada, mas vale o esforço pelo que nos devolve em horas de exercício, convívio e aproxima das raízes de camponeses que quase todos transportamos. E tudo isto em segurança, sem fugas apressadas de veículos que trazem sempre a pressa no destino. Foi uma ideia que me parece agradar à grande maioria, mas esperemos pelo desenvolvimento destes tempos pandémicos, porque aí sim se tirarão as dúvidas. O investimento feito servirá também para atrair de novo os muitos turistas que nos visitavam e tão satisfeitos encontravam de novo as estradas para suas casas. Para nós e para eles. A nossa economia precisará de novo que o turismo regresse, que as estruturas existentes abram de novo as portas, que as filas nos restaurantes e cafés se acumulem ao longo do dia, e este percurso vai contribuir com a sua parte, tenho a certeza. Afinal vou terminar com noticias agradáveis, se calhar por causa das rabanadas de vento frio e alguma chuva que ainda estou a tentar secar da ultima caminhada. Que bom. Agora até tinha mais assuntos, a nova ponte, o aniversário da ASARC, a organização da vacinação com os seus passos muito curtos, as contrariedades que vão surgindo, a população que por estas bandas vai diminuindo, mas hoje, fico por aqui. Corre lentamente o ano de 2021. Continuamos em confinamento, mas acredito que o futuro irá regressar. Cada um tem que cumprir a sua parte, só isso. Cá ficamos á espera da vacina.