Conduzir tendo por companhia apenas os meus pensamentos, ou a ausência deles, é um dos prazeres que tenho, sobretudo se a condução acontecer sem pressa e se for pelas estradas sinuosas de Arouca. Estas entregam-se voluptuosamente, caem aos nossos pés e guiam-nos por entre a respiração verde, húmida e sussurrante, em letargia, presa no mesmo lugar, entre o antes e o depois, entre o que já passou e o que está por vir, sem tempo, sem cronómetro nem relógio, alheia a qualquer pensamento, vontade ou emoção do visitante, um ponto efémero e ao mesmo tempo eterno, como efémeras e eternas são as manifestações da natureza que ciclicamente e sistematicamente existem e se repetem, em monotonia perfeita, pacífica, inexplicável…