Mobilidade em Arouca na ordem do dia
Foi noticiada oficialmente pela Câmara Municipal de Arouca a
assinatura do auto de consignação da empreitada de ligação do Parque de
Negócios de Escariz à A32, pelas Infraestruturas de Portugal e o Consórcio Ferrovial
Agroman S.A. que decorrerá no dia 3 de junho, no salão nobre dos paços do
concelho, com a presença de SE o Ministro da Habitação e das Infraestruturas,
Pedro Nuno Santos, e dos presidentes de câmara de Santa Maria da Feira e de
Oliveira de Azeméis, Emídio Sousa e Joaquim Jorge, respectivamente.
Esta empreitada terá a duração de 870 dias e custará mais de 30
milhões de euros, co-financiada por fundos europeus, no âmbito do Programa de
Valorização das Áreas Empresariais.
Esta é uma obra desejada há muitos anos pelos arouquenses, como
continuidade à tão prometida e sempre adiada 2.ª fase da Variante à N326, que
apesar de não cumprir a totalidade da extensão anteriormente reivindicada, com
sacrifício do troço entre Rossas e Escariz, é a solução possível, fruto do
trabalho e da pressão dos municípios de Arouca e de Santa Maria da Feira junto
do poder central, em defesa do direito à mobilidade das populações de interior,
como as de Arouca.
É de enaltecer o esforço e o investimento que a autarquia de
Arouca fez para que este “sonho”, há muito almejado e tantas vezes malogrado, se
concretizasse. Esta ligação será uma mais-valia para diminuir o isolamento e
distanciamento geográfico de Arouca face ao Porto, sede da Área Metropolitana
que Arouca integra.
Contudo, há ainda muito a fazer e a investir em termos de
construção de infraestruturas e de mobilidade. Arouca tem uma única central de
transportes, a necessitar de obras de remodelação, funcional e arquitectónica,
pois é e deve ser uma porta de entrada para Arouca, serve os arouquenses, trabalhadores
e estudantes que se deslocam diariamente para a sede do concelho para
frequentar os 2.º, 3.º ciclos e o ensino secundário e, finalmente, alguns
turistas (seriam mais se o Andante e o plano de mobilidade na AMP tivesse
discriminação positiva para Arouca).
Em linha com as recomendações europeias, o transporte público
deve ser o meio privilegiado para uma mobilidade mais amiga do ambiente, mais
cómoda, mais segura e menos onerosa, representando um importante fator na
qualidade de vida das populações e símbolo de desenvolvimento económico e
social das localidades.
Em Arouca ainda não se conseguiram colmatar as deficiências da
rede (?) de transporte público existente nas diversas freguesias e destas para
o exterior do concelho, apesar do tão apregoado Andante, acessível
verdadeiramente para os utilizadores dos municípios mais urbanos e próximos da
sede da AMP.
Desde março até agora, devido aos constrangimentos por causa da
COVID-19 que limitou a circulação das pessoas e encerrou escolas, a maioria dos
transportes públicos em Arouca foram suspensos, deixando a população sem esse
serviço básico que deveria ser universal. Não têm os residentes de Alvarenga,
Canelas, Moldes, Ponte de Telhe, Cabreiros, Albergaria da Serra, Tropeço, entre
outras, o mesmo direito à mobilidade dos residentes noutros municípios e freguesias
da AMP?
Além de estradas, os arouquenses merecem legitimamente o direito
ao transporte público. É necessário pensar e pôr em ação um plano estratégico
para a mobilidade em Arouca, com todos os seus constrangimentos e especificidades,
que assegurem as necessidades quer de residentes, quer de turistas que optem
por deslocações mais amigas do ambiente. Será utópico reivindicar que um turista
aterre no aeroporto Sá Carneiro e em 3 horas de viagem em transporte público
intermodal, chegue a Alvarenga, via vila de Arouca? Será demais pedir que haja
transporte público independentemente do calendário escolar?
Os horários das carreiras devem também ser ajustados às
necessidades, para motivar o uso do transporte público em detrimento da
utilização de veículos próprios e individuais. As cidades estão a limitar o
tráfego e a circulação de veículos ligeiros de passageiros e a apostar em redes
eficientes de transportes públicos, de forma a devolver os espaços públicos e
as ruas e avenidas aos peões. Arouca deverá seguir estas boas práticas e lutar
por infraestruturas estruturantes para garantir a fluidez, rapidez e segurança da
rede viária (se possível com vários centros urbanos com que delimita fronteiras
(não apenas com o litoral), necessária à boa circulação de bens e mercadorias
e, concomitantemente, pugnar e investir no transporte público, indispensável à
fixação da população nas freguesias mais distantes, como é o caso de Alvarenga,
que também tem uma zona industrial para “avivar” e que tem vindo a perder
serviços públicos como os CTT, obrigando a deslocações frequentes à vila de
Arouca que, na ausência de transporte próprio, tem de ser feitas com recurso a
táxi.
De resto, apesar destes constrangimentos que não sendo novos restringem
o transporte público ao transporte escolar, ao tempo letivo e a 5 dias por
semana, em várias freguesias, Arouca tem investido em formas e modos de
mobilidade suave, de que é exemplo a “Ciclovia” que, estou certa, trará à
população do vale de Arouca e do vale do Arda uma nova forma de deslocação,
mais sustentável, amiga do ambiente, agradável, saudável, em harmonia com a
paisagem ribeirinha, por este modo, acessível à fruição. Falta agora garantir uma rede de transportes públicos eficiente e com serviços mínimos assegurados, durante todo ano, em todas as freguesias do concelho, através de empresas privadas (se o serviço for rentável), ou através de serviços de transporte municipais, relembrando que a autarquia já teve 2 autocarros, dois motoristas e que mais que assegurar passeios e visitas de estudo (igualmente necessários e pertinentes), não serão prioritários relativamente ao direito de circulação da população local. Por que não garantir um ou dois dias por semana, pelo menos, de transporte público municipal gratuito, das freguesias à sede de concelho, através da criação de circuitos, como se tem feito nos últimos anos, na Feira das Colheitas? Fica a sugestão...