Esta fotografia, tirada a partir do cume da Senhora da Mó, revela bem um facto muito claro, com validade ontológica, que quem não conhece Arouca devia saber. A Vila de Arouca, que tem cerca de 5 200 habitantes (sede de um concelho da Área Metropolitana do Porto e da Região Norte com cerca de 22 360 habitantes) localiza-se num vale de grande dimensão e não na Serra da Freita. A serra que está mais próxima da Vila de Arouca é a Serra da Senhora da Mó e não a Serra da Freita. A Vila de Arouca localiza-se no Vale do rio Arda, na Bacia Hidrográfica do rio Douro. As zonas de vale e de meia-encosta do concelho de Arouca são as mais populosas e não as zonas de serra, que são muito pouco populosas. Nesse sentido, a componente humana do concelho de Arouca que mais contribui para a definição identitária do concelho de Arouca como um todo, em termos estruturais, é, como sempre foi, forjada a partir da identidade das populações das zonas de vale e de meia-encosta do concelho e não das zonas de serra, que são exíguas em habitantes. A Vila de Arouca e o Vale do rio Arda, que se distende, depois, no espaço administrativo de várias freguesias arouquenses, para oeste e que se liga, em Rôssas, ao Vale do rio Urtigosa, são o território mais populoso que mais contribui, em termos de componente humana, para a definição identitária do concelho de Arouca como um todo. Não a Serra da Freita.
Vila de Arouca, que se localiza no Vale do rio Arda |
A Vila de Arouca localiza-se na área onde nasce e se forma o rio Arda (um dos afluentes estruturais do rio Douro), que se direcciona para o litoral e desagua em Pedorido, no rio Douro (a cerca de 7 Km das fronteiras norte e oeste do concelho de Arouca e a cerca de 22 Km da cidade do Porto), como se pode verificar nesta outra fotografia:
Foz do rio Arda, que desagua no rio Douro, em Pedorido, a 7 Km do concelho de Arouca e a 22 Km do Porto |
Há mais de três décadas atrás, a Aditur, uma das empresas de autocarros que existia em Arouca, criou um serviço de expresso diário (entre Arouca e o Porto e entre o Porto e Arouca) que se denominava «Expresso Arda-Douro». Essa designação é muito simbólica e reveladora da ligação muito forte que Arouca e os Arouquenses sempre mantiveram com o Porto e com o Grande Porto e da sua tendência de mobilidade sócio-económica para o litoral (as fronteiras oeste e noroeste do concelho de Arouca localizam-se, em linha recta, a cerca de 22 Km do Porto e a cerca de 19 Km do oceano Atlântico), a fazer lembrar a direcção do percurso do rio Arda, que nasce e se forma em Arouca, num percurso que se direcciona para o litoral, onde desagua, em Pedorido, no rio Douro, que, por sua vez, desagua na magnífica Foz do Douro, na cidade do Porto, no oceano Atlântico. Contudo, essa mobilidade não é unívoca, porque os Arouquenses vêem esses locais unidos e coesos, por fazerem parte, de modo dinâmico e permanente, da sua vida quotidiana, num espaço coeso e identitário que é habitado e vivido de modo contínuo.
rio Arda e rio Douro: rios da Área Metropolitana do Porto
P.S.- Ainda a propósito da identidade...E estamos aqui a considerar a identidade do concelho de Arouca por referência às divisões territoriais identitárias mais vastas onde está inserido, num contexto macro...A identidade de um determinado território é, perfeitamente, definível, com conceitos racionais, com métodos e técnicas científicas: ela é apurada a partir dos elementos físicos, naturais, humanos e sociais autóctones e endógenos desse território, bem como da interacção dinâmica que ocorre, entre esses elementos, de modo espontâneo. Vários elementos civilizacionais exógenos podem, no entanto, associar-se a esse núcleo estrutural identitário mais originário e devem também ser sempre considerados, ao se considerar a evolução e o percurso histórico da identidade endógena desse território. Os vários ramos das Ciências têm capacidade para, com rigor, apurar a identidade autóctone de um determinado território. No domínio das Ciências Sociais, por exemplo, os conceitos de «área natural» (elementos autóctones) e de «área administrativa» (divisões territoriais e administrativas do Estado) da Escola Sociológica de Chicago (EUA) são úteis para dar inteligibilidade a um dos problemas do concelho de Arouca, em termos das suas divisões territoriais mais vastas, porque uma das graves lacunas administrativas de Arouca é o facto de pertencer, de modo arbitrário, desde 1835, ao distrito de Aveiro, já que o espaço urbano principal de referência de Arouca e dos Arouquenses sempre foi a cidade do Porto/Grande Porto, não apenas pelo facto de estar próximo, mas pelo facto do território identitário de Arouca se inserir nas divisões territoriais identitárias mais vastas protagonizadas pelo Porto e pela Região Norte que respeitam os elementos autóctones do território. E elas são, desde o início da nacionalidade de Portugal, a região de Entre-Douro-e-Minho e a região Norte e, durante o século XX, a província do Douro Litoral, que é a divisão territorial mais adequada para o território endógeno mais vasto onde Arouca se insere e que constitui quase a totalidade do distrito do Porto, que tinha, como cidade principal, a cidade do Porto. Ou seja, o concelho de Arouca está bem enquadrado, em termos endógenos, na região de Entre-Douro-e-Minho, na região Norte, na província do Douro Litoral e na Área Metropolitana do Porto, mas não está nada bem enquadrado, desde 1835, no distrito de Aveiro. Isso é um facto muitíssimo claro, evidente, com validade ontológica. Arouca, se se mantiverem os distritos, devia pertencer ao distrito do Porto.
Arouca e os Arouquenses têm dado provas de boas práticas de desenvolvimento sustentado. Também é muito importante combater a anarquia irracional que, infelizmente, costuma caracterizar as várias divisões administrativas do território português. Nesse sentido, Arouca, os Arouquenses e as suas várias instituições devem empenhar-se em reforçar, cada vez mais, o enquadramento institucional do «território de mobilidade natural dos Arouquenses», que sempre foi protagonizada pelo Porto e pela Região Norte e que nunca foi protagonizada pela cidade de Aveiro. A ligação dos Arouquenses com Aveiro é, sobretudo, meramente, burocrática, como sempre foi, devido ao facto de, a partir de 1835, um concelho tipicamente nortenho e típico da Região do Entre-Douro-e-Minho ter sido integrado, de modo arbitrário e sem nexo, no distrito de Aveiro, que é uma cidade da Região Centro.
Arouca e os Arouquenses têm dado provas de boas práticas de desenvolvimento sustentado. Também é muito importante combater a anarquia irracional que, infelizmente, costuma caracterizar as várias divisões administrativas do território português. Nesse sentido, Arouca, os Arouquenses e as suas várias instituições devem empenhar-se em reforçar, cada vez mais, o enquadramento institucional do «território de mobilidade natural dos Arouquenses», que sempre foi protagonizada pelo Porto e pela Região Norte e que nunca foi protagonizada pela cidade de Aveiro. A ligação dos Arouquenses com Aveiro é, sobretudo, meramente, burocrática, como sempre foi, devido ao facto de, a partir de 1835, um concelho tipicamente nortenho e típico da Região do Entre-Douro-e-Minho ter sido integrado, de modo arbitrário e sem nexo, no distrito de Aveiro, que é uma cidade da Região Centro.