Em agosto, nas esplanadas dos cafés, ouvimo-los a falar,
geralmente alto, com tiques de linguagem que lhes são próprios
:"Poubelle", "autoroute", "retraite", e
tantos mais. Esses tiques são muitas vezes ridicularizados porque são mal
interpretados. Explicam-se, na minha opinião (obrigado Sara por me ter aberto
os olhos), pela história vivida (sofrida) por essa espécie particular de
Arouquenses: o emigrante de cabelos brancos. Suas histórias individuais moldam
a história coletiva do nosso território como a, mais geral, de Portugal.
Esses arouquenses sofreram um "choque de
civilização". Emigraram "A salto". Passaram de um ambiente
"arcaico" para um ambiente moderno sem transição. Falo do ambiente de
vida e não das condições de vida porque aquelas que encontraram nos seus
primeiros anos eram em maioria também arcaicas (os « bidonvilles » - bairros de
lata). Como teríamos, nessa situação, encontrado palavras na nossa língua
materna para nos referirmos a coisas que não conhecíamos? Convido-vos a ter
isso em mémoria quando ouvirem as palavras "francious" que pontuam as
conversas em agosto.
Entre 1960 e 1975, centenas de arouquenses deixaram as suas
aldeias, muitas vezes isoladas, para ir ao encontro de uma vida melhor. A maior
parte eram homens jovens. A maioria foi A Salto. A maioria não conta essa parte
da sua história pessoal. Por dignidade.
Foi só há 40 anos! Essas histórias individuais mergulham-me
nas notícias de um mundo que, pelo jogo de meios de communicacão cada vez mais sensacionalistas
e de um populismo crescente, muitas vezes despreza os homens que fogem da
miséria.
A vida é um
recomeço eterno. Jovens deixam, hoje, a África ou o Médio Oriente à procura de
uma vida melhor. Eles também "A salto". Vivem um «choque de
civilização» similar ao dos nossos anciãos.
O emigrante de cabelo branco foi o "migrante" de ontem!
Testemunhos de 20'18 a 21'40
Até breve neste meu Arouca do relembrar!