Durante muitos anos, em França, quando me perguntavam donde eu era de
Portugal e respondia «de Arouca», só podia notar o vazio interestelar nos
olhos dos meus interlocutores: "Arroucâ, onde fica isso?". E eu,
obrigado a responder sempre pelo mesmo retornelo: "a uma distância de cerca de
30 km a sul do Porto". A discussão geralmente parava por aí. Frustrante!
Hoje, vivo uma bela evolução. A evocação de «Arroucâ»
desperta uma curiosidade muito mais assertiva entre as quais posso distinguir
duas categorias de pessoas: os «gamers», amadores de futebol, e os amantes de
natureza! Aos primeiros vem a recordação imediata da equipa de futebol que
eles tiveram a oportunidade de enfrentar no jogo Fifa, "o Arroucâ que
venceu o Benficâ", e os outros vem a imagem dos Passadiços. A discussão, em geral, não pára pela localização geográfica, mas toma o
caminho da curiosidade sobre este pequeno pedaço de Portugal com pedidos de
indicações sobre o que visitar.
Essa notoriedade relativamente nova deixa-me preso entre
sentimentos ambivalentes. Adeus à frustração de não poder justificar as
qualidades desta terra e dos seus homens. "Arroucâ" está hoje no mapa dos ex-libris portugueses e é FINALMENTE reconhecido. A contrapartida é a sensação de
ser desapossado, de certa forma, porque foi, durante anos, a MINHA coisa que
hoje devo compartilhar.
Pois é! Ser Arouquense de lá, hoje, é ter de compartilhar
este bem comum que nos supera a todos. E, afinal, que prazer me dá ver o
brilho nos olhos de amigos franceses de gema que convidei há anos à nossa terra
e que hoje se tornaram os meus melhores embaixadores.
Texto dedicado ao meu amigo Antoine Martin, o mais arouquense dos franceses de gema |