Ainda ecoam em mim as palavras da minha mãe que, num ritual de sexta-feira, perguntava ao meu pai as notícias de Arouca que aquele jornal semanal lhes envolvia a Saudade e lhes abraçava a ligação, nunca perdida, com a terra onde nasceram.
O meu pai Zé nasceu em Penso de uma família muito pobre: a minha avó Eulália lavava escadas na rua do Beco a troco de alguma comida. O meu avô Aires era jornaleiro nas terras da D. Catarina em dias que havia trabalho. A minha mãe Rosa viveu na Rua da Lavandeira e os meus avós maternos, ele lavrador, ela mulher de casa que repartia o seu tempo entre o forno a lenha onde cozia broa de milho e parteira quando dela necessitavam, viveram de modo remediado com uma prole de dez filhos vivos que três, levara-os ainda novos, a doença.
O meu pai Zé nasceu em Penso de uma família muito pobre: a minha avó Eulália lavava escadas na rua do Beco a troco de alguma comida. O meu avô Aires era jornaleiro nas terras da D. Catarina em dias que havia trabalho. A minha mãe Rosa viveu na Rua da Lavandeira e os meus avós maternos, ele lavrador, ela mulher de casa que repartia o seu tempo entre o forno a lenha onde cozia broa de milho e parteira quando dela necessitavam, viveram de modo remediado com uma prole de dez filhos vivos que três, levara-os ainda novos, a doença.
Cedo o meu pai começou a aprender uma arte, no
seu caso de alfaiate, em casa do senhor Vitorino Fontes, mas como aspirava a
uma vida melhor concorreu, após a tropa, para ingressar na Policia de Segurança
Pública no Porto onde permaneceu até à reforma. A minha mãe que, desde muito nova,
começou a servir em casa do Dr. Duarte Silva, aspirando a ganhar um pouco mais
para fazer o enxoval, rumou a Marechal Gomes da Costa, no Porto, para ajudar em
casa da família Queiroz Ribeiro.
Separados de Arouca, num tempo em que os
transportes escasseavam e o dinheiro não abundava, o jornal Defesa de Arouca
desde sempre os acompanhou no estreitar de uma relação à sua terra de que só
eles conheciam memórias e sabores.
Todas as sextas feiras, o carteiro era portador
de notícias cristalinas que aquele jornal simples e macio fazia transbordar numa
saudade da distância que nos sufoca sem contudo nos fazer retroceder no
caminho. Sim, que os meus pais nunca foram pessoas de desistir!
E como era interessante ver os anúncios simples
das festas e romarias, a vida social de familiares, amigos ou conhecidos, os
artigos dos arouquenses mais dados à escrita ou mesmo os reparos dos
assinantes!
Hoje procurei nos pertences dos meus pais um exemplar
do jornal Defesa de Arouca! Infelizmente não encontrei …apenas me deparei com
alguns recortes de noticias que o meu pai, religiosamente, colecionava: o
falecimento do meu avô Manuel e o nascimento da minha filha Diana, cerca de
vinte anos mais tarde.
Olhei-os com uma inefável ternura…
Sabe tão bem guardar as raízes do que somos, o antes de qualquer projecto perfeitamente definido, num tempo em que o sonho, a sedução e o sentido de um jornal fazia as delícias de uma pequena família de arouquenses, no Bairro do Cerco do Porto!
Sabe tão bem guardar as raízes do que somos, o antes de qualquer projecto perfeitamente definido, num tempo em que o sonho, a sedução e o sentido de um jornal fazia as delícias de uma pequena família de arouquenses, no Bairro do Cerco do Porto!
Nota: Aceitei, com agrado, o convite para participar no Blog Defesa de
Arouca! Saiba eu estar à altura daquilo que todos vós poderão esperar do meu
singelo contributo.
Rosa Sousa
Professora de Filosofia